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antoniosilva



Quinta-feira, 25.05.17

Desafio

...parece que eu tenho mais uma montanha para escalar. Parece que estou recomeçando do zero ... outra vez. Já escalei muitas montanhas e todas as superei com distinção. Cada uma deu-me uma lição e uma lição eu aprendi com elas. Agora...aparece-me tu outra vez. Já não sei como fazer. Os pensamentos de dor vêem-me à cabeça e eu não quero passar por isso outra vez. Sentir dor é do caraças, faz-nos a não querer a voltar a fazer outra vez a mesma coisa. Dizem que sentir dor é bom mas...eu... eu tenho as minha dúvidas. Se sentir dor fosse bom não havia tanta gente a desistir e, aqueles que dizem que dor é bom, se calhar, já desistiram também porque já não os vejo...

Desta vez esta montanha parece-me mais difícil, é mais íngrime e parece não ter fim. Só de a ver dá-me vontade de desistir. Não quero fazer este caminho agora, pelo menos agora...tenho que ter um tempo para parar, pensar, resolver, encher-me de coragem e de vontade, de vontade de seguir porque estou num ponto onde pouco me motiva e onde sou pouco impulsionado. Tenho que arranjar novas maneiras de me redescobrir, de buscar forças onde ainda não tinha buscado e ter alegria para viver. Se tu me apareceste-me à frente é porque ainda tenho que aprender e por cada montanha que me aparece tenho que ter a mesma vontade de a escalar como se fosse a primeira porque desistir é desistir de muitas coisas e uma das coisa mais importantes é de desistir de quem eu sou. Construí o meu caminho até aqui, sempre com os horizontes abertos, ávido de aventura e loucura, ai!! eu não media as consequências, era para fazer eu fazia, era para escalar eu escalava, era para jogar-me de cabeça lá eu ia. Eu ia, eu ia ... ei ia ...

Agora, parece que eu cansei. As montanhas já não me são atrativas, em termos de aventura, como antes, as pernas já me cansam de tanto trepar e andar, o meu espírito sossegou-se sem eu dar por isso e, agora, já me cansa até de pensar. Deixa-me fixar um pouco oh montanha desafiante, pensas que és só tu que me dasafia o dia inteiro? pensas que com a tua enormidade achas-te o meu maior problema? Não seja convencida, oh montanha ingénua!! O meu maior problema não existe neste espaço físico, não por ser tão grande mas por ser tão ilimitado que até faz-me duvidar e, é esta dúvida, que me deixa amarrado onde estou sem ganas para continuar. Deixa-me tomar folgo, deixa-me sentar e pensar, deixa-me encontrar outra vez aquela alegria que eu tinha de te trepar, de te conhecer. Agora, de tanto te percorrer, parece que já te conheço de cima a abaixo e o caminho conhecido não me motiva a percorrer-te outra vez. Diz-me, MONTANHA, tens caminhos novos para eu percorrer? diz-me o que tens de novo que me possa atrair, diz-me a razão porque eu tenho que me levantar deste banco apetecível e desejado e te escalar outra vez, diz-me oh montanha frequente e indesejada?

Não estou a desistir, não quero acabar com a vida, longe disso, pelo contrário, quero continuar a viver e a viver bem, aquilo que experiênciei até agora teve os seus desafios, os seus altos e baixos, teve momentos que irei guardar pela vida mas ... agora, com o conhecimento, sinto que parei de evoluir, estagnei. Já não me parece boa ideia dispender tanto esforço, sentir tanta dor, para ver e percorrer os mesmos caminhos, ver as mesmas paisagens, ouvir os mesmos pássaros. A tua enormidade já não me atrai como desafio, antes me aborrece, enfadonha, definha e agasta-me.

Tentei reparar nas pequenas coisas, nas coisas simples, tentei reparar no som da água a cair, no vento a passar, na chuva que me molha e no sol que me aquece, tentei reparar nestas pequenas coisas e nada, não me estimulou como me estimulava. A dias atrás fui abraçado pela uma criança e eu chorei por dentro, senti como que a saudade a ser devastada e afastada. Ohhh!! que saudades que eu já tinha de ser abraçado por uma criança, a sua inocência abraçou-me também libertando-me do peso que eu carrego de falta e de culpa. Por momentos eu senti-me livre, por momentos eu senti-me amparado - curioso de que senti-me amparado pelo abraço daquele corpinho, deu-me a energia de que eu precisava. Agora já podia enfrentar os monstros do dia a dia, até me sentir miserável outra vez...

O desafio é morto pelo o antecipar do pensamento, a dor oculta a vontade de seguir em frente e o sentimento esvaia-se e dissipa-se no dia a dia constante e igual. É preciso estremecer e sacudir, fazer um reset, e começar de novo com os conhecimentos adquiridos e fazer diferente cada dia porque, se os dias forem iguais, a rotina mata-me como está-me a matar. O desafio é o desafio por si só.

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por antoniosilva às 10:39



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